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quinta-feira, 28 de julho de 2011

momento

Incomensurável
Indescritível
Intraduzível
Mas não é indizível
Nem inefável
Por mais inimaginável
E transcendente
E impossível
É crível, presente e tangível.
É medido na dor
Descrito com amor
Traduzível em poema
Eternamente
Com e sem ela.

Igor L.C.




Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Brasil.



quinta-feira, 21 de julho de 2011

Obsessão ou obsecação?

A dúvida
da vida
incompreendida;
do seio
lacerado
e invisível;
do amor que diz
seu ser,
sem ser ouvido.

A palavra cerrada,
serrada,
sofre em si enclausurada.
Pois não toca,
não afeta,
está lá morta
e vive em si,
aqui,
posta.

Cindida  –
a vida
se demora.
Choro.

Não dá pra fingir
Que eu não existo.
Não pra mim.
Insisto em ligar?
Pra que,
se sofrer,
é chorar.

Mas o que queria eu dizer?
Que eu amo você?
Pra quê?
Se sofrer
Vou de novo chorar.

O amor é isso,
"o ser e o nada".
Não se nem lhe basta.

p.s:
não te apaixonei?
então dou minha insônia
ao que você quiser ser seu amor.

Abjuro, juro!
enquanto não for
será aqui,
aí,
nosso estranho amor.

domingo, 17 de julho de 2011

Rebento


Madrugada a dentro,
rebento!
pousou...

Como
uma
mosca.

Mas quando abro a boca,
voa,
como uma mosca.

Voa pensamento, voa!
Pois a palavra não te perdoa
Mas sei que há de voltar.

Poema pensamento, poema!
Põe trema que é para rimar – Ü

Igor L. C.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Dêssa, déssa, peça-a-beça.

Não faz sentido
pra minha cabeça

não sei se ela é besta
ou se não tem cabimento.

Se ela não captou
ou se achou o que eu não achava.

e se achando o que não cabe,
acabar se achando o que não sabe?

Ó, pobre de minha cabeça!
bate-entrave;
bate
entrave.


Igor L.C. e Rafael S.S.



Licença Creative Commons
This work is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Compartilhamento pela mesma licença 3.0 Brasil License.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

“Escuta” ô “Zé Ninguém”

Quando o homem-comum fecha os olhos,
tapa-os com suas mãos,
numa tentativa de meditar...

Interessa-se mais
pela pressão que engana-o,
favorecendo-se do tédio
pul-san-te,
Com figuras no escuro a bailar.

Igor L. C.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Eu e meu

Meu Corpo: distancio
Eu-corpo: me filio

“O corpo só existe quando a alma se retira”

Meu corpo: posse
Eu-corpo: eu

“O pensamento é um atributo que me pertence,
e só ele não pode ser separado de mim”

Meu-corpo: encarnado
Eu-corpo: existente

Igor L. C.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

A Mosca

Ivan pensava: “tirando as pessoas que têm animais de estimação, à todas as outras restam as moscas e pernilongos”. Pensava isso sorrindo o mínimo, sozinho enquanto descansava da leitura e fumava seu tabaco. “Mas só as moscas tem nosso ligeiro respeito, afinal, aqui, todos matam os pernilongos... é claro, tem a ver com isso, vocês não nos sugam...”. A mosca à sua frente parecia nada apreender e, enquanto isso, perambulava indiferente de um lado pro outro de sua calça vestida, naquelas pernas estiradas e bem relaxadas apoiadas sob uma cadeira. “Quando nos incomodam?”, perguntava à si mesmo e à mosca, “sim! incomodam! ficam às vezes em bando né, atazanam nossos almoços... mas ainda assim não lhes temos ódio, não lhes matamos, vocês bem sabem disso, nós lhes toleramos!”. Até então, olhava-a fixo e atentamente, em só mais um solilóquio, quando, então, sentiu poder senti-la e, focando-se ainda mais, negando implícitamente poder estar louco, disse a si para ela: “dona mosca, sabe que eu não te mataria não é mesmo?! Porque não dá sinal de entender-me?”; perseguia-a inquieto e imóvel; ela voava baixo e pousava perto, sem nunca afastar-se das pernas cobertas de Ivan. “Nenhuma outra espécie animal macroscópica passa mais tempo com nós humanos, pura e simplesmente porque é chato lidar com vocês, incomodam-nos, mas seria incomodo maior o trabalho de uma por uma lhes exterminar, vocês são chatas precisamente o quanto são rápidas e, assim nós convivemos, conflitando tolerância e repugnância, apenas por ser mais cômodo”. Ele passou a evitar gestos bruscos, evitava inclusive soltar as suas baforadas de fumo na direção de suas estiradas pernas, palco de toda aquela peça. Não queria expressar reações que incitassem medo, queria parecer solicito e cordial, pura afetividade receptiva. Aquela não era a primeira vez que tentava comunicações tal qual esta, ou ainda investidas telepáticas semelhantes e, fosse pelo que fosse, mais valia a experiência de pensamento do que o tribunal da razão cinemática, projetista de um filme só. “Dona mosca, pouse no livro em minha mão, como prova de compreensão... sem medo, sou honesto em não lhe atacar...”. A mosca pareceu mesmo imobilizar-se, dar-lhe atenção; até que, derrepente, levantou voo e partiu. Seria o fim da estória se, dois minutos após, não tivesse a mosca voltado num rasante e, surpreendendo Ivan, pousado magistralmente sob o livro em sua mão. De pasmo, tornou-se resoluto por um ato de reflexão imposta e, pensou dizendo: “Olá dona mosca! agora preciso saber se és dona mesmo ou se és Zé! hahaha!”, enquanto acompanhava-a desfilar por sobre as folhas abertas e pela capa do livro em mãos. Ivan girava-o, observando-a e, a ex-tímida mosca, agora era quem parecia mais se entreter. Então, voou de vez.


Igor L. C.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Manifesto do Movimento Neo-Candango

MOVIMENTO NEO-CANDANGO

A construção não termina em seu projeto
nem em sua realização concreta
é sonho além do ferro, da conta, do empréstimo.
                                                                                              
concreto
de construido abaixo virá
só para derrubar o teto que cobre a chuva fina
                                                                              
pois é se molhando que se entendo o mundo
mas não se joga lama no povo
pelo menos não de novo
                                                                                              
e se para construir
desconstrução precisar ser
desconstrução torna-se ação
e o criar o preencher
                                                                                              
menos cidadãos, mais construtores
fora a corja de lá, Brasília é aqui.

   MOVIMENTO NEO-CANDANGO - A Construção Não                                                                                       Terminara

domingo, 3 de julho de 2011

Comer só uma coisinha

1-  Indo ao banheiro escovar os dente, subindo as escadas vindo do subsolo. Sente-se bem alimentado.
O cenário: Universidade de Brasília, Instituto Central de Ciências, Ala sul.


2- Ao terminar de subiar as escadas, sente a barriga doer em decorrência do esforço pouco posterior ao ato recente de alimentar-se.  Dá um passo adiante, e virando o pescoço distraidamente para a esquerda, vê a lanchonete a funcionar. A lanchonete está fechando, e só há um funcionário. Pensa:

               “hmm, comer só uma coisinha antes de dormir…”


3- Começa a deslocar-se rumo à lanchonete, ia sonhando:
               “será que tem algo sobrando,… hmm, só uma coisinha antes de dormir…”


4- Já aproximado, pensa:

                “como assim !#&%!? Eu estava indo escovar os dentes!… anda, volta, você não precisa comer!”


5- Retorna rumo ao banheiro e, enquanto caminha, pensa:
               
                “eu não estou com fome, eu quero é fumar, é por isso que eu fui querer comer!… Ora !#&%!, poder deslocar a causa de meu comportamento para a pulsão pelo cigarro, é algo que só tornou-se possível desde o advento da psicanálise com Freud!”


6- Saiu do banehiro e voltou para onde estava, esquecendo-se de escovar os dentes.

Igor L.C.

sábado, 2 de julho de 2011

A Chuva

A chuva é uma dessa coisas que prendem involuntariamente a nossa atenção. De amplitude maior, há aquelas que antecipam expectativas alheias por meio de movimentos intencionalmente pré-projetados. Como abrir mão da fenomenologia, ou existencialismo e hermenêutica? A chuva pouco a pouco passa a ser ignorada, antecipada como o mesmo que já vai passar. É só um (talvez até mesmo longo) momento. Uma etapa do dia que uns passam vivenciandoa-a na pele, molhando-se e correndo; já outros, observam e ignoram. A chuva fica mais fraca, as pessoas percebem e renotam-a. O vento frio que pelas janelas agora entra, fazem-nas por casacos. A chuva já não será mais esquecida. Lá fora, as pessoas já estão a andar por entre a chuva; as gotas formam um fino tecido que amanta-as pela manhã. O aspecto de segunda-feira final de verão, águas de Abril, sobressalta aos olhos. A chuva volta a cair forte, e a essa hora, as pré-expectativas de boa parte dos estudantes observadores do lado de dentro da biblioteca desmoronaram em pequena aflição. É pouca, mas não estava ali, e tira o foco, em alguns vira fome, em outros o banho tomado, o não tomado, o café e a briga de ontem a noite.

 

Tudo vira chuva. 

Igor L.C. 

 

Licença Creative Commons
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Brasil.

Papel

A todo homem cabe um lápis.
A humanidade só existe enquanto letra,
e um homem sem papel, é arte sem lugar...

Sem caneta,
A cabeça,
É limbo criativo,
Frágil e des-construtivo.

Papel é tudo aquilo em que pode o homem se expressar,
A parede, sua pele,
Tudo pode se animar

A alma, insaciável criar e repetir
Ensimesmada sempre está
Tal ser sempre decidir. 

Platônico o Amor

Frugal amor ameixas...
Tuas buchecas contra o vento,
Mais veloz que os planetas desse cosmos...

Cabelos são o tempo;
Notas holandesas, flores e francesas,
Perfume que inalo e lembro, lendo...

Você e suas frases, rubores inevitáveis.

Passa o pó de base,
Ameixas brancas disfarçadas;
O não dito pedagógico,
Faz-se escrituras sagradas.

Disfarço a disritmia...
Todavia, a síncope me avassala,
Nervosa, minha sala, me assola, minha parte, tua sombra,          me ignora.

Só um vazio

De frente para a janela, os carros atropelavam seus tentados sonhos. Deitada, ela podia ouvir o mundo, ruidos de uma conversa próxima, suas recordações; ouvia o recente choro agora ausente de uma criança morta. Misturava-se à sua frente o amontoado de vozes do cotidiano, que ecoavam por entre a soturna lembrança da perda do filho. Havia dias que não dormia bem. Acumulava-se para isso esta eterna labuta do cotidiano. Ter de trabalhar, dívidas a pagar, ter de acordar e tudo isso viver. Era inevitável ter de viver, mas viver tinha sido até ali esperar. O dia-a-dia era o espaço em suspenso ao aguarde do fim do primeiro ciclo, o ciclo materno de ser para continuar sendo. A realidade desfacelara-se à sua frente e, impotente, ela, Juliana Sabatela, não conseguia dormir. Pouco a pouco seu mundo lúcido confundia-se com o horizonte onírico da verdade. Não fosse pelas frequentes visitas que ela, por vários querida, recebia, talvez tivesse mesmo perdido-se para sempre. O sentido do outro era confirmar a realidade compartilhada com o outro, e nossa mente, quando muito sozinha, multiplica-se e abranje, tornando-se companhia e realidade única, tornando-nos loucos. Ela demonstrava claros sinais de perda da razão, e vinha mesmo preocupando os que lhe cercavam. Mas os que mais intimamente conheciam de pé de ouvido sua história de vida, por mais que se sensibilizasem ainda mais, por outro lado entendiam perfeitamente o porque do surto. Há quatro anos que Ivan a acompanhava mensalmente para que se cumprisse o tratamento conceptivo. Quando finalmente Renan nasceu, a juventude daquele casal eternizara-se no novo ser, e todos os projetos de ambos, lançados pela precisão da razão, rompiam-se agora, largando-os num mundo sem chão.

                                                                                                                   Para     
                                                                                                                    Tatá